quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Tuberculose Pulmonar

Tuberculose Pulmonar

Doença infecciosa causada pelo bacilo aeróbico Mycobacterium tuberculosis, que tem preferência pelo parênquima pulmonar, e a transmissão é através de partículas infectadas.

As micobactérias são bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR). Na bacterioscopia, utiliza-se o método de Zihel-Neelsen para identifica-los.

O bacilo de Koch é aeróbio, e dá preferência para tecidos aerados.

A transmissão se dá pelas gotículas de Flügge (de até 5 micra), contendo 1 a 2 bacilos. Essas partículas são chamadas de Núcleo de Wells.
Disseminação Linfo-Hematogênica (Primo-infecção):
Ao alcançarem o espaço alveolar, os bacilos são fagocitados pelos macrófagos, e se proliferam lá dentro até romperem a membrana celular, sendo novamente fagocitados e infectando outros macrófagos.
Os bacilos são drenados para os linfonodos hilares e mediastinais satélites (gerando seu aumento e inflamação, que pode causar compressão brônquica e atelectasia), atingem a corrente sangüínea e são semeados para diversos órgãos.
Indivíduos infectados desenvolvem uma memória imunológica após 3-8 semanas.
A ativação do sistema imunológico pode causar eritema nodoso, conjutivite e artralgia poliarticular.
Os linfócitos T helper CD4+ específicos para os antígenos bacilares se proliferam e ativam os macrófagos pela liberação das interleucinas.
Os macrófagos aumentam seu citoplasma e multiplicam sua capacidade bactericida, e se acumulam em volta do foco de infecção (formam o granuloma), e em 95% dos casos, a infecção é controlada, mantendo o paciente assintomático (focos regressivos).
Mesmo os granulomas controlados podem conter focos latentes do bacilo.
O granuloma pode conter em seu interior as células gigantes de Langehans (fusão de vários macrófagos ativados).
No centro da reação granulomatosa surge uma área de necrose sólida tipo caseosa.
O Granuloma Caseoso necrosa devido a liberação de citoquinas pelas células inflamatórias do granuloma tuberculoso.
Nódulo de Ghon: foco granulomatoso pulmonar onde tudo começou.
A lesão tecidual é causada pela resposta imunológica do hospedeiro. Quando a carga de bacilos é grande, a inflamação é maior e os focos de necrose caseosa são chamados de focos progressivos.
Granuloma Caseoso: típico da tuberculose (pela presença do cáseo). Grandes áreas de necrose caseosa podem liquefazer-se por ação das enzimas líticas dos macrófagos, e podem erodir a parede brônquica, comunicando-o com espaço aéreo (rico em O2), formando a Caverna Tuberculosa, que pode romper-se espalhando-se e causando a chamada Disseminação Broncogênica.
O rompimento das cavernas podem disseminar o bacilo (gerando tuberculose endobrônquica, laríngea, pleural). Se a caverna se estender para pleura, causa uma fístula bronco-pleural, com pneumotórax e empiema tuberculoso.

O adulto é mais propenso a tuberculose pleural primária do que a tuberculose primária.

É combatida pela imunidade CELULAR, e NÃO HUMORAL.


A contaminação depende da:
1- Maior Inoculo inalado:
- Da concentração de bacilos expelidos pelo paciente tuberculoso.
- Da intensidade e freqüência do contato.
- Das condições ambientais.
2- Resistência natural do indivíduo exposto:
- Genética e doenças debilitantes ou imunossupressoras.

Os doentes se classificam como:
- Multi-bacilíferos: forma cavitária da doença, bacterioscopia positiva, responsáveis pela transmição.
- Pauci-bacilíferos: forma não cavitária da doença, bacterioscopia negativa, cultura positiva.
- Não bacilíferos: formas extrapulmonares.

O teste tuberculínico (ou PPD ou Purified Protein Derivative ou Mantoux) é uma fração protéica purificada do extrato de cultura do bacilo de Koch.
Ao inocularmos antígenos bacilares (PPD) na região intra-dérmica dos indivíduos imunizados, este desenvolve uma induração, em 72-96h, maior ou igual a 5mm (PPD reator).
Os exames PPD podem dar os seguintes resultados:
Não-reator: 0-4mm – indica: não infectados.
Fraco-reator: 5-9mm – indica: infectados por micobactérias ou vacinados pela BCG.
Forte-reator: mais que 10mm – indica: infectados por micobactérias ou c/ BCG.
20% dos pacientes tuberculosos dão PPD Não-reator (falso negativo) por anergia cutânea (incapacidade de resposta imunológica ao teste cutâneo).

Síndromes da Tuberculose:
Tuberculose Primária: ocorre pela primo-infecção (dentro dos 3 primeiros anos de contato). Em geral é autolimitada. Ocorre + em crianças, mas quando ocorre no adulto, apresenta-se mais sob a forma apical.
Tuberculose Primária Típica: comum em crianças até 12 anos (resposta dos linfonodos hilares e mediastinais exacerbada).
Tuberculose Primária Progressiva: infecção com grande inoculo de bacilos ou com imunodepressão.
Tuberculose Pós-Primária (crônica): ocorre após 3 anos (por reativação de foco latente ou por re-infecção), em adultos (15-40 anos). Tem tendência a evoluir com caverna. É altamente contagiosa (é a +++ transmissível). Não é autolimitada.
Mais comum a forma apical (terços superiores dos pulmões).
Tuberculose Miliar: mais comum em crianças menores que 2 anos ou imunodepressão.

QC: tosse, febre vespertina, sudorese noturna, emagrecimento, anemia, hemoptise.

Tuberculose na AIDS: na imunodepressão grave (CD4 < 200), a TB pulmonar apresenta um RX bem atípico (infiltrado intersticial difuso, derrame pleural, adenopatia hilar e mediastinal). Acometimento predominantemente pulmonar.





Diagnóstico: Clínico, RX (melhor posição: ápico-lordótica), baciloscopia (escarro direto ou escarro induzido por NBZ), PPD, Cultura de BK.
Exame de escolha: exame de BK no escarro (baciloscopia).

Suspeitou na clínica ou RX: pede baciloscopia de escarro.
TB pulmonar positiva: baciloscopia positiva.
TB pulmonar negativa: 2 baciloscopias negativas + RX e clínica positivos.

Prova Terapêutica (reavaliação após 30 dias).

PCR (amplificação do DNA do bacilo da TB): sua positividade não indica atividade da doença. Continua positivo após tratamento e cura.

O RX tórax é mais útil no diagnóstico de TB de imunocompetentes do que nos TB com SIDA (porque se manifesta de forma atípica).

Local ++ acometido na Radiografia:
Segmento apical do lobo superior, apical do lobo inferior e posterior do lobo superior.

Criança: baciloscopia costuma a ser negativa.
Tosse, expectoração, emagrecimento ou sudorese por + de 2 semanas = 15 pontos.

Melhora com ATB comum = - 10 pontos.
Adenopatia hilar, infiltrado pulmonar ipsilateral = 15 pontos.
RX normal = -5 pontos.
História de contato nos últimos 2 anos = 10 pontos.
PPD maior ou igual15mm = 15 pontos.
PPD 10-14mm = 10 pontos.
PPD 5-9 = 5 pontos.
Desnutrição = 5 pontos.
Tuberculose é comprovada com maior ou igual 40 pontos.

Adulto: Clínico e RX.
Baciloscopia no escarro.
Cultura para BK: se a baciloscopia der negativa ou em caso de TB resistente a RIP.
Enquanto espera o resultado da cultura, trata-se empiricamente (em caso de melhora ou cultura positiva, completa o tratamento por 6 meses).

Outros métodos: broncofibroscopia com biópsia transbrônquica, lavado broncoalveolar, PCR do escarro e sorologia para BK.

TB congênita: é rara; é + comum se a gestante tiver primo infecção do que se for reativação de infecção prévia.

Complicações ++ freqüênte da TB pulmonar:
Disseminação broncogêncica;
Fibrose parenquimatosa progressiva.





Tratamento:
Todos os pacientes em tratamento de TB devem ser acompanhados, no mínimo, no 2o, 4o e 6o mês com bacterioscopia (Zihel-Neelsen), que deve reduzir progressivamente.

Certeza que o paciente não é mais infectante pós-tratamento: cultura negativa.

O BK tem a capacidade de sofrer mutação espontânea que lhe confere resistência ao uso de cada droga isoladamente.

Falência Terapêutica: bacterioscopia fortemente positivos até o 4o mês de tratamento, baciloscopia que negativou e voltou a positivar por 2 meses consecutivos e baciloscopia positiva ao final do tratamento.

#Esquema I (6 meses): RIP (2), RI (4). [Rifampicina, Isoniazida e Pirazinamida]
Primeira escolha de tratamento.
Após 7 dias no Esquema I, 80-90% dos pacientes não estão mais bacilíferos.
Após 15 dias no Esquema I, quase 100% dos pacientes não estão mais bacilíferos.
Após Esquema I:
Baciloscopia fracamente positiva +2 ou menos após RIP, faz-se RI por mais 3 meses.
BAAR negativa c/ evolução clínico-radiológica insatisfatória, faz-se RI por mais 3 meses
Se tiver Falência Terapêutica: Esquema III.

#Esquema IR (6 meses): RIPE (2), REI (4). [RIP + Etambutol]
Se o paciente parou o Esquema I após 30 dias e antes de 6 meses.
Se o paciente completou o Esquema I, e teve recidiva da TB.

#Esquema II (9 meses): RIP (2), RI (7). Prednisona por 2 a 4 meses. Fisioterapia precoce.
Em caso de meningite tuberculosa associada.

#Esquema III (12 meses): EEEP (3), Etambutol e Etionamida (9);
Estreptomicina, Etambutol, Etionamida e Pirazinamida.
Falência Terapêutica (baciloscopia fortemente positiva +3 ou mais após RIP).


Indicações de internação:
Indicação cirúrgica;
Complicações graves da tuberculose;
Intolerância medicamentosa;
Mau estado geral;
Sem residência definida;
Meningite tuberculosa.

Internação: Isolamento respiratório, quarto com pressão negativa e filtros HEPA (High Eficiency Particulate Air) – capazes de reter as partículas de Wells.






Efeitos Adversos:
Rifampicina: náusea, vômito, hepatotoxidade, hipersensibilidade, púrpura, trombocitopenia, síndrome gripal, nefrite.
Isoniazida ou Hidrazida: náusea, vômito, hepatotoxidade, neuropatia (repor vitamina B6), reação lúpus-símile.
Pirazinamida: náusea, vômito, hepatotoxidade, hiperuricemia, gota.
Estreptomicina: labirintopatia, hipoacusia, nefrotoxicidade.
Etambutol: náusea, vômito, perturbações visuais de cores, escotoma, borramento, perda de visão.
Etionamida: náusea, vômito, diarréia e icterícia.

Náusea e vômito: dar antieméticos. Se não melhorar, suspende o RIP por 24-72h e as reintroduz junto à refeição.

Hepatotoxidade: Estreptomicina, Etambutol e Ofloxacina.
(transaminases mais que o dobro do normal)
Em caso de hepatotoxidade, deve-se suspender o esquema RIP até a melhora clínica e a redução das transaminases para abaixo 2x o valor de referência, reintroduzindo cada droga, uma a uma, a cada 3-5 dias.
Caso a hepatotoxidade a:
R: Fazemos Esquema III por 12 meses.
I: Substituímos por Estreptomicina e Etambutol.
P: Substituímos por Etambutol.

Gestante: pode tomar RIP.
Esquema I + Piridoxina.
A Estreptomicina é CI, tem efeito teratogênico.

Nefropata:
Esquema I, baixando a dose da I e da P, caso o clearence de creatinina seja < 10ml/min.

Hepatopata ou Alcoólatra:
Transaminases elevadas, devemos esperar abaixar para dar Esquema I.
Alcoólatras: internar, melhorar o quadro hepático e dar Esquema I + Piridoxina.
Se hepatopata grave: Estreptomicina, Etambutol e Ofloxacina por 12 meses.

Profilaxia:
BCG: duração da proteção 10 anos.
Faz-se em todo profissional de saúde com PPD negativo.
Reduz a incidência (80%) de formas graves de tuberculose (meningite tuberculosa, TB miliar). Mas não reduz os casos totais de tuberculose.

1a dose: recém-nato (se após 6 meses, não desenvolver cicatriz, vacina-se de novo e pára).
2a dose: 6-14 anos.

O BCG pode dar aumento ganglionar (sem dor, acompanhar; com dor e fístula, fazer quimioprofilaxia).
Recém-nato e crianças HIV positivos, ou filhos de mães com HIV devem ser vacinados.

A quimioprofilaxia depende de avaliação clínica do contactante.
Comunicantes:
São os que convivem com doentes bacilíferos ou com menores de 5 anos doentes.
Exame de escolha para os Comunicantes: exame de BK no escarro (baciloscopia).
- RN s/ BCG c/ contato com TB: Quimioprofilaxia Primária (INH por 3-6 meses).
- Crianças: faz PPD (infectada se >10mm em não vacinados e >15mm em vacinados, ambos sem sinais de infecção): Quimioprofilaxia Secundária (INH por 6 meses).

- HIV+: se > 5mm, faz quimioprofilaxia (INH por 6 meses).
- HIV+: 0-4mm, faz quimioprofilaxia (INH por 6 meses) só se já foi reator antes.

- RX ou baciloscopia positiva: investigar e tratar.
- RX ou baciloscopia negativa: quimioprofilaxia (INH por 6 meses).

Quimioprofilaxia = Isoniazida por 6 meses ou Rifampicina por 3 meses ou R+Pirazinamida por 2 meses.

Quimioprofilaxia Primária: previne infecção de BK (PPD não reator).
Isoniazida, 10mg/Kg por 6 meses.
Recém-natos: se tiver contato com TB faz quimioprofilaxia por 3 meses, faz PPD (se reator, quimioprofilaxia por + 3 meses; se não reator, aplicar BCG).

Quimioprofilaxia Secundária: previne o adoecimento pela TB (PPD reator).
Isoniazida, 10mg/Kg por 6 meses.
Crianças até 15 anos, comunicantes bacilíferos: com PPD≥10mm e sem BCG; ou com PPD≥15mm e com BCG.
HIV Positivos: comunicantes, com RX com cicatrizes, PPD reator≥5mm ou CD4<350 ou linfócitos<1.000.
Outros: transplantados, DM, nefropatas, etilístas, em uso de CE ou imunossupressores, com silicose, sarcoidose ou linfoma que são PPD reator ≥10mm.

Todos os comunicantes que terminarem a quimioprofilaxia ou não tiverem critérios para fazer a quimioprofilaxia devem fazer BCG.

Criança com PPD reagente, sem BCG e sem doente conhecido em casa, deve fazer quimioprofilaxia secundária e pesquisar foco domiciliar.

Um comentário:

Marcelo Jaccoud da Costa disse...

Meu ppd foi 12mm, tomografia e rx indicaram infiltrado micronodular no lobo superior direito do pulmao, trabalho com pessoas em situação de rua, muitas comprovadamente com tuberculose, tive febre, dores no corpo, suor noturno durante uma semana, estou tossindo há duas semanas. Há 4 meses fiquei tossindo por 4 semanas, mas na época o rx estava limpo. Mas minha baciloscopia deu negativa. Tenho ou não tuberculose?